Senta-te ao meu lado, deixe que te faça uma pergunta com meus olhos fitos na tua negra máscara. Leve-me em tuas acrobacias para ouvir no tilintar de seus guizos a resposta... Quantos amores caberiam em um parque? Haveria espaço? Quantas voltas poderia caminhar? Haveria tempo? Quantas manhãs? Quantas tardes? Quantas noites disponíveis? Seria seguro? Quem ameaçaria o cultivo de amores no parque?
Suas dimensões são mistério para mim. Mas sei que não
esgotei sua capacidade, quanto me resta? Nenhuma fria manhã recém nascida negou
meus amores, nenhuma tarde ensolarada e nenhuma noite deixou de se alongar para
abrigar meus amores. Até mesmo os amores que não chegaram a teus portões foram
abrigados.
Fosse ao som de harmoniosa melodia. De reveladoras
confissões. De uma grande adrenalina seguida de um salto desajeitado e um
delicado movimento rasteiro. De passos tranquilos. De corridas ousadas. De
silêncios. De pele tocando a outra por descuido ou por um movimento calculado,
ou ainda, um toque por um movimento incontrolável. Carinhosamente, cada um foi
recebido como único, como se tivesse todo espaço disponível para preencher.
Com generosidade o parque se ajusta, hoje depois de fazer
caber tantos amores volto ao primeiro. Regresso a meu primeiro amor, o que numa
tranquila e longa caminhada segura minha mão, protege meus passos de cada
pensamento que ameace a tranquilidade do passeio. Assim, cada passo que dou não
calcula seu destino, mas se deixa guiar, se entrega a surpresa.
Parque, revele meus amores para que eu possa dar a mão ao
meu primeiro, retorno a ti como nos primórdios de minhas caminhadas, mas com
todo o chão caminhado.
Arlequim? (Tilintar de guizos)
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